De Curitiba para o cenário global da inovação, João Pedro Novochadlo transforma empatia em tecnologia com foco social. O jovem curitibano desenvolve soluções acessíveis e já acumula quatro prêmios no âmbito do BRICS, provando que a inovação de impacto parte de olhar para o outro.
“Eu vou para os lugares, eu quero vencer, mas eu sei que tem o terceiro passo, que é sempre voltar”, afirma João Pedro, destacando seu compromisso com a cidade natal. Esse vínculo com o local foi o ponto de partida para criar projetos que transformam primeiro a realidade de Curitiba antes de atingir o mundo.
Inovação com propósito
A inspiração para desenvolver tecnologia de impacto social surgiu cedo. De acordo com João Pedro, foi a estrutura urbana de Curitiba — seus parques arborizados, espaços públicos pensados e sistema de transporte diferenciado — que o impulsionou a enxergar a cidade como um organismo vivo. “Com certeza ter nascido em Curitiba me motivou, e motiva até hoje, a buscar soluções, tecnologias e alternativas. Eu tenho um compromisso com a cidade”, ele destaca.
A partir dessa visão, ele lançou o aplicativo da Veever, voltado para pessoas com deficiência auditiva e visual. A ideia nasceu enquanto atuava como voluntário e percebeu, com empatia, as dificuldades enfrentadas por essas pessoas para se localizar e interagir com os ambientes ao redor. Ele desenvolveu um sistema que utiliza sensores instalados nos espaços e envia informações via celular — em áudio ou texto — para que o usuário saiba exatamente onde está e o que há ali.
Com mais de dez anos de dedicação ao projeto de acessibilidade, João Pedro mostra que a inovação não precisa estar distante das pessoas — ela começa no que está perto: na cidade, na comunidade e na vontade de fazer a diferença.
Reconhecimento internacional e retorno à origem
O trabalho de João Pedro não passou despercebido. Ele conquistou quatro prêmios do BRICS, incluindo o “Young Innovator Prize”. O reconhecimento internacional reforça a relevância da tecnologia inclusiva e o crescimento do ecossistema de inovação local.
Apesar das conquistas globais, ele mantém o olhar voltado para Curitiba: “Nós somos uma construção progressiva de todas as oportunidades que a gente tem”, reforça.
Do voluntariado ao impacto digital
Tudo começou com um convite para um trabalho voluntário no Instituto Paranaense de Cegos, em Curitiba. Lá, João Pedro teve contato com a realidade de pessoas que não sabiam qual linha de ônibus estava a passar no ponto ou como se orientar no espaço urbano. “Não tenho ninguém cego na família e, até então, não tinha amigos com essa deficiência. A ideia do aplicativo surgiu deste contato, pois percebemos a importância de garantir maior autonomia para as pessoas sem visão ou visão comprometida”, recorda.
A partir de 2015, o aplicativo da Veever começou a tornar-se realidade. O sistema usa beacons — dispositivos de microlocalização fixados em pontos-chave da cidade — cujo sinal é interceptado pelo smartphone do usuário. “É como se fosse um GPS, mas com maior precisão”, explica o empreendedor.
Tecnologia em ação
Uma das grandes provas de conceito ocorreu durante o Rock in Rio de 2019, quando a startup instalou cerca de 60 dispositivos bluetooth no festival para permitir que pessoas com deficiência visual, ao apontarem o celular em direções específicas, recebessem audiodescrições sobre tamanho, formas e cores de palcos e outras áreas do evento.
Com a pandemia, a startup expandiu seu serviço para reduzir as barreiras enfrentadas por pessoas com deficiência visual. “Criamos um guia em que robôs percorrem a web buscando informações importantes sobre prevenção, auxílio emergencial, e a nossa equipe faz a curadoria para que não entrem fake news”, explica.
Educação e futuro
Além da atuação prática na Veever, João Pedro investiu em formação: obteve bolsa da Fundação Lemann para mestrado em Empreendedorismo Social na University of Southern California (USC), em Los Angeles. Ele foi recebido pelo então prefeito de Curitiba, Rafael Greca, para agradecer a carta de recomendação que viabilizou a bolsa.
O apoio institucional foi fundamental para que a proposta de impacto social da Veever se tornasse ainda mais sustentável e relevante. João Pedro espera retornar com novas ferramentas para ampliar ainda mais essa missão de inclusão tecnológica.
Autor: Daria Alexandrova
