A presença do artista curitibano Poty Lazzarotto (1924–1998) está registrada em diversos espaços da Assembleia Legislativa do Estado do Paraná (Alep). A exposição “Poty retrata o Paraná”, aberta em 21 de outubro de 2025 e em cartaz até o fim de março de 2026 no Salão Nobre da Alep, convida o público a compreender a influência decisiva do artista na concepção do edifício do Plenário.
Composta por 25 obras, a mostra apresenta estudos de Poty que revelam como ele idealizou trabalhos marcantes da construção, inaugurada há aproximadamente 50 anos. Os esboços, feitos em papéis de calendário com amplos espaços em branco e a frase “risque e rabisque”, detalham a criação do painel “Sol, pinhão e três planaltos” e do mural em concreto “Símbolos do Paraná”, localizados no térreo da Alep. Também estão expostos estudos que deram origem aos entalhes de madeira conhecidos como “Ceifador”, antes planejados para a Tribuna de Honra e atualmente posicionados na entrada do Plenário. Fazem parte ainda da mostra os traçados iniciais de “Assembleia”, mural de madeira do Plenarinho que faz uma leitura simbólica da política paranaense.
Os projetos foram desenvolvidos entre 1974 e 1976, abrangendo os meses que antecederam a inauguração do prédio do Plenário e seu primeiro ano de funcionamento. O edifício, onde se encontram o Salão Nobre, o Plenário, o Plenarinho e o Auditório Legislativo, é a segunda construção erguida na sede atual da Alep. Antes dele, em 1963, foi inaugurado o Palácio 19 de Dezembro (Prédio Administrativo), e em 1986 passou a funcionar o Edifício Presidente Tancredo Neves, que abriga os gabinetes parlamentares.
Segundo o historiador Ricardo Freire, integrante do Núcleo Curatorial do Museu Oscar Niemeyer (MON) e responsável pela seleção das obras expostas, os estudos mostram que o painel “Assembleia” foi uma das obras que sofreram alterações em relação aos projetos originais. Produzida em entalhe de madeira, a peça retrata simbolicamente a evolução dos agrupamentos políticos, desde os povos originários até a formação contemporânea do Legislativo. De forma poética, a passagem do tempo é representada por pássaros e rostos humanos olhando simultaneamente para o passado, o presente e o futuro. Entre as adaptações, aparecem mudanças na disposição dos elementos e na forma de representar a assembleia contemporânea.
Ainda segundo Freire, os demais estudos revelam como Poty trabalhou a representação de ícones da identidade paranaense: os três planaltos, o ceifador, o sol, a gralha-azul e o pinhão. Tais referências originaram as obras “Ceifador”, “Sol, pinhão e três planaltos” e “Símbolos do Paraná”. Nos rascunhos, é possível identificar modificações feitas pelo artista no mural final, embora tenha sido mantida a figura do semeador. Outro elemento marcante é a representação de um lenhador derrubando uma araucária, momento em que Poty acrescenta uma crítica sutil ao impacto ambiental.
O curador observa que Poty ressaltou a figura do agricultor em suas obras. Apesar do avanço industrial do Paraná na década de 1970, a agricultura ainda exercia grande influência econômica naquele período. Ele acredita que o artista tenha visualizado a Assembleia Legislativa como um espaço capaz de proteger o meio ambiente e, ao mesmo tempo, valorizar o agricultor. Freire destaca que não existem diários ou documentos pessoais que expliquem detalhadamente as intenções do artista, pois esse tipo de registro não acompanhou o conjunto das obras. Em 2022, o irmão de Poty, João Lazzarotto, doou 4,5 mil peças ao MON, entre elas estudos referentes às produções exibidas na Alep.
Freire também afirma que Poty teve liberdade para influenciar a organização espacial da Assembleia Legislativa. Segundo ele, os símbolos presentes nas obras exercem impacto emocional e cultural, reforçando o sentimento de identidade e pertencimento do povo paranaense.
Na abertura da exposição, o presidente da Assembleia, Alexandre Curi (PSD), afirmou que a presença de Poty na instituição é simbólica e poderosa, destacando que aquele dia marca a abertura definitiva da Alep para a cultura e a história. A mostra acontece paralelamente ao processo de restauração de três obras do artista: “Sol, pinhão e três planaltos”, “Assembleia” e a porta de madeira do Salão Nobre — esta última é a única obra da sede que não possui estudo exibido. As restaurações iniciadas em 2024 incluem limpeza, remoção de sujeira, riscos, desbotamento e reparo de danos.
Além dos estudos, a exposição apresenta obras que percorrem a trajetória histórica da formação do Paraná, envolvendo indígenas, tropeiros e imigrantes europeus, abordando atividades como produção de erva-mate, cultivo de café, exploração da madeira e desenvolvimento industrial. A mostra reúne diferentes técnicas, como nanquim, litogravura, carvão e concreto.
“Poty retrata o Paraná” é resultado de um termo de cooperação entre a Assembleia Legislativa e a Associação dos Amigos do Museu Oscar Niemeyer (AAMON), com o objetivo de ampliar o acesso da população à arte e à cultura paranaense. O acordo foi assinado por Alexandre Curi, Colmar Chinasso Filho (diretor administrativo-financeiro da AAMON) e Wellington Dalmaz, com participação da vereadora Rafaela Lupion (PSD) e de Luciana Casagrande Pereira. A parceria prevê exposições itinerantes, empréstimos de obras do acervo do MON e outras iniciativas culturais em espaços públicos do Legislativo.
A exposição está aberta ao público no Salão Nobre da Assembleia Legislativa do Paraná, de segunda a sexta-feira, das 9h às 18h, com entrada gratuita.
Autor: Daria Alexandrova
