Denúncia foi feita pela antropóloga Gabriela Bonilla em palestra nesta quinta-feira (11), primeiro dia do 14 Congresso Estadual da APP
Os ataques à educação pública no Paraná são parte de uma movimentação global que tenta impor um falso consenso de que a iniciativa privada é melhor na gestão das escolas, o que possibilitaria a empresas se apropriarem de recursos públicos. A denúncia foi feita pela antropóloga Gabriela Bonilla em palestra nesta quinta-feira (11), primeiro dia do 14 Congresso Estadual da APP.
Gabriela participou da mesa temática “Reformas Permanentes Neoliberais e de Privatização da Educação Pública”, que teve como mediadores(as) a presidenta da APP, Walkiria Mazeto; o secretário executivo de Assuntos Municipais da APP, Antonio Marcos Goncalves; e Luiz Carlos da Silva, dirigente estadual da CUT.
A plataformizacão da educação, imposta pelo governo Ratinho Jr, é parte da estratégia de esvaziamento das escolas, assim como a educação híbrida, que desarticula encontros presenciais ao impor um novo perfil de professores(as) e uma nova gestão do tempo dos estudantes.
“Nossos governos se deixaram hipnotizar por esses experimentos e estão propensos a investir alto, sem consultar os educadores sobre uso das tecnologias”, disse Gabriela.
Desqualificação
A disputa política e ideológica pelo orçamento e pelos currículos escolares leva a uma campanha privatista que busca desqualificar a escola pública, apontou Gabriela. Simultaneamente, o setor privado é apontado pela mídia como mais eficiente, mais transparente e menos corrupto.
Em seguida, a desqualificação se estende aos(às) educadores(as). “Nos colocam sob suspeita e nos afastam de pais e alunos. Estão procurando nos isolar, buscam nos criminalizar e apontam que o que é público não presta”, resumiu.
O neoliberalismo impõe o conceito de cidadania pelo consumo, incluindo a educação. “Se você pode consumir, você tem cidadania. Nesse contexto de supressão de direitos, a caridade ganha espaço. Nós queremos cidadania de direitos, não caridade”, afirmou Gabriela.
A antropóloga lembrou que desde a década de 80 bancos internacionais apontam que há espaço para exploração da educação pública. Em 1990 o Banco Mundial passou a defender reformas nos curriculuns das escolas públicas, mantendo apenas o suficiente para conseguir um emprego ruim. Em 2016, 43% dos empréstimos do Banco Mundial para educação foram para países da América Latina.
Apropriação
Gabriela apontou que o Peru já aplica modelo híbrido em 20 escolas e o México em 50. O modelo aumenta o isolamento social dos (as) estudantes, que só têm contato com professores(as) em 20% do período letivo.
Na Colômbia, escolas municipais são obrigadas a comprar serviços de fundações privadas, como currículos e avaliações. No Uruguai, escolas compram pacotes com testes, controle de presença.
“A maior parte do orçamento para educação é de recursos público, por isso há espaço para fazer negócios”, disse Gabriela.
Além das empresas especializadas em educação, bancos também ganham muito com a privatização. De 1995 a 2023, o Banco Mundial lucrou com o financiamento de dez projetos de reforma curricular na América Latina, num total de US$ 1 bilhão – US$ 250 milhões vieram para o Brasil em 1997 financiar o Proem implantado por Jaime Lerner.
“Há também pacotes de endividamento para estudantes, na perspectiva de que se deve pagar por tudo. Você não tem direitos e tem q comprar esses direitos no mercado”, aponta Gabriela.
Negócios
Nesses tempos em que empresas de educação são listadas nas bolsas de valores, é crescente a pressão por dados padronizados. Há demanda contínua por avaliações e competição por financiamento baseado em resultados.
“Investidores, diferente do estado, querem lucro. O número de alunos é fator de valorização e essas empresas buscam processos padronizados para apresentar a investidores. Quem investir pode exigir resultados e mudanças nos currículos. Não é mais educação, são negócios”, concluiu Gabriela.